agua viva (fragmento)

E eis que sinto que em breve nos separaremos. Minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo a minha solidão. Que às vezes se extasia como diante de fogos de artifício. Sou só e tenho que viver uma certa glória íntima que na solidão pode se tornar dor. E a dor, silêncio. Guardo o seu nome em segredo. Preciso de segredos para viver.


(clarice lispector – brasil)

causas y azares

cuando pedro salió a su ventana
no sabía, mi amor, no sabía
que la luz de esa clara mañana
era luz de su último día.

y las causas lo fueron cercando
cotidianas, invisibles.
y el azar se le iba enredando
poderoso, invencible.

cuando juan regresaba a su lecho
no sabía, oh alma querida,
que en la noche lluviosa y sin techo
lo esperaba el amor de su vida.

y las causas lo fueron cercando
cotidianas, invisibles.
y el azar se le iba enredando
poderoso, invencible.

cuando acabe este verso que canto
yo no sé, yo no sé, madre mía
si me espera la paz o el espanto;
si el ahora o si el todavía.

pues las causas me andan cercando
cotidianas, invisibles.
y el azar se me viene enredando
poderoso, invencible.



(silvio rodríguez – cuba)

extranjeros


si te molestan por su acento o atuendo,
por sus términos raros para nombrar
lo que tú llamas con distintas palabras,
emprende un viaje
no a otro país
(ni siquiera hace falta)
a la ciudad más próxima.


verás cómo tú también eres extranjero.



(jose emilio pacheco - méxico)

pie de foto



Los familiares de las víctimas
ante las puertas de la morgue

(En primer plano un árbol
de fresquísima sombra
sin nadie)



Suicida cayendo desde lo alto del puente
acribillado por los policías que venían a salvarlo
-Hizo un gesto sospechoso -declaró el oficial.



El rastro de sangre llega hasta el ascensor
Los policías corren de piso en piso
esperando que se detenga
alguna vez



Los familiares de las víctimas
enfrentándose a la policía ante las puertas de la morgue
donde se niegan a entregar los cadáveres


(En primer plano un árbol
como un dibujo japonés
entre la niebla de las bombas lacrimógenas)
(julio miranda - venezuela)

simulador

De mañana temprano entré a un bar, me senté a una mesa, pedí cosas y fingí desayunar. La gente me miraba y no se daba cuenta de nada. Yo también los miraba y pensaba, satisfecho “ignoran que no estoy desayunando”. Después me fui a una parada y simulé que esperaba un ómnibus. La gente venía y se iba yendo en los distintos ómnibus que pasaban, y todos me trataban con la misma indiferencia con que se trataban entre ellos, como si hubiera sido uno más. Yo pensaba, satisfecho “ignoran que no estoy esperando ningún ómnibus.” Más tarde fui a una oficina, me senté en un escritorio y traté de dar la sensación de que estaba trabajando. Nadie sospechó nada, y yo, satisfecho, miraba de vez en cuando a los otros mientras pensaba “ignoran que no estoy trabajando”. Ahora ya es de noche y estoy en mi cuarto con la luz apagada y los ojos cerrados. Aunque no las veo, sé que las paredes me están mirando. Yo me quedo quieto y pienso “ignoran que no estoy durmiendo.”

(Leo Maslíah – Uruguay)

sigo esperando...




hice lo que me dijeron.
envié el correo a 10 personas en menos de 5 minutos.
estuve en ayunas por tres meses.
saludé a mis vecinos de piso.
cedí el puesto en el bus.


sigo esperando el milagro...




así que, por favor:
la próxima vez en lugar de cadenas, promesas de buena suerte, "mejores deseos", demostraciones de amistad sincera y cosas por el estilo mándenme dinero, algo de cerveza, entradas para el cine, boletos de avión, etc.




um genocídio ainda impune

Para o governo local, o ano de 1968 era o momento de mostrar ao mundo que o México não se resumia a um país subdesenvolvido. Tendo passado por uma intensa guerra civil, agora, em pleno progresso econômico, estava pronto para revelar seu potencial. Sua capital, a Cidade do México, era a sede dos Jogos Olímpicos daquele ano. O reconhecimento internacional da grandeza do país não tardaria.
Mas nem tudo saiu como sonhavam as autoridades. “Aos 40 anos de estabilidade política e de progresso econômico, uma mancha de sangue dissipava o otimismo oficial e provocava em todos os espíritos uma dúvida sobre o sentido desse progresso”, analisa o ensaísta Octavio Paz em sua obra O Labirinto da Solidão e Post-scriptum. Paz se refere ao Massacre de Tlatelolco, ocorrido em outubro de 1968, a dez dias do inicio das Olimpíadas, e que deixou, até hoje, um número incerto de mortos, calculado entre 300 e 500. Ficou a certeza da impunidade dos culpados, que ordenaram que se abrisse fogo contra uma multidão desarmada.

68 dias

Em dois atos diferentes, cerca de cinco mil secundaristas caminhavam até a praça da Constituição reivindicando melhores condições para a educação. Em meio ao trajeto, outros universitários, que manifestavam apoio à Revolução Cubana, se juntaram aos estudantes. Era 26 de julho de 1968 e, segundo o intelectual mexicano Sergio Zermeño, deu-se ali o primeiro grande confronto do Estado e suas forças policiais com os manifestantes. “O choque, violento, levou os estudantes que participavam da manifestação a serem caçados e espancados” conta Zermeño, apontando que na ocasião 76 pessoas foram presas. No entanto, para os organizadores, os números foram maiores: 200 prisões, 500 feridos e também se falou em oito mortos. Mesmo sendo um fato aterrador por si, aquele era o prelúdio de um movimento cada vez maior de repressão às manifestações que ocorreriam no país, acompanhando o que já se desnrolava em outras partes do mundo. Quatro dias depois, o Exército é posto nas ruas com o intuito de restabelecer a ordem. Na madrugada de 30 de julho, um jipe com um canhão dispara contra o portão da Universidade Autônoma do México (Unam). Tradicionalmente, as grandes universidades no mundo repudiam qualquer interferência em sua autonomia e toleram ainda menos manifestações belicistas em seus campi. Seguindo esta tradição, o reitor da Unam, Javier Barros Sierra, decreta luto universitário e discursa. “Não é apenas o destino da universidade que está em jogo, mas as causas libertárias do México”, pronunciou incisivamente o reitor no dia 1º de agosto, frente a uma manifestação com cem mil pessoas. No dia 4, os manifestantes apresentavam as reivindicações à população e ao governo do México: liberdade aos militantes presos, destituição dos generais que comandavam a polícia e o exército e revogação do artigo 145 do Código Penal, que tipificava o delito de opinião. “Os mexicanos não propunham uma mudança violenta e revolucionária da sociedade. O movimento foi reformista e democrático”, analisa Octavio Paz.
A partir daí, o que era somente um movimento de estudantes passa a ganhar corpo e contar com a adesão de todas as classes. Enquanto a expansão acontecia, o governo se calava. Um mês após o início das manifestações, no dia 27 de agosto, o país já era palco de um movimento que arrastava pelas ruas 400 mil pessoas. Trabalhadores, estudantes, camponeses e famílias carregavam faixas com frases como: “Nosso desejo, nossas armas”, pedindo o diálogo entre o povo e o governo. “O eixo do movimento e o segredo do seu poder instantâneo de sedução sobre a consciência popular foi a palavra democratização”, pondera Octavio Paz.
A repressão se intensificou no dia 18, quando o governo autoriza a ocupação do Exército no campus da Unam. Estudantes são presos e espancados e uma série de choques entre as forças militares e os manifestantes nas ruas da Cidade do México acontecem. “Os moradores da zona garantiram a logística, oferecendo munição em forma de pratos, garrafas e água fervente; atirando contra as tropas todos os tipos de projéteis”, detalha o professor João Roberto Martins Filho, da PUC-São Carlos. A situação é de um campo de guerra e ao meio-dia do dia 22 de setembro, o governo retira as tropas de Tlatelolco, mas não de outros bairros, onde se especula que haja corpos de estudantes em porões dos prédios.

Olímpia Era dia 30 de setembro, o Exército já havia abandonado o campus da Unam. O Conselho Nacional de Greve (CNG) queria aproveitar a presença da imprensa internacional, que começava a chegar no México devido à proximidade dos Jogos, e denunciar a situação de seu país. “Naquela altura e com as Olimpíadas para começar, o governo parecia cada vez mais impotente diante da ‘hemorragia de autoridade’ aberta pelo movimento”, afirma Martins Filho. Uma reunião foi convocada para o dia 2 de outubro, na praça de Tlatelolco, e ali seria o cenário do massacre. “São uns 6 mil mais ou menos”, narra o jornalista brasileiro Antonio Euclides para a revista Veja, que se desespera logo em seguida. “Às 6 horas e 15 minutos ainda há gente chegando à Praça, quando de um lado dos helicópteros [que sobrevoavam a reunião] aparecem luzes verdes. É o sinal para o ataque.”
Quem prossegue contando os tristes fatos são os jornalistas mexicanos Julio Scherer e Carlos Monsiváis, no livro Los Patriotas – de Tlatelolco a la guerra súcia. “Durante 45 minutos, posicionados nas janelas dos prédios ao redor da praça, atiradores de elite apoiados por tropas federais na praça dispararam contra a multidão, que corria atarantada e encontrava fechadas todas as saídas do lugar.”
David Veja, então estudante, discursava do terceiro andar de um prédio, no exato momento do ataque. “De dentro do edifício a confusão era generalizada, a água jogada pelos policiais se misturava à forte chuva que começava a cair sobre nós e inúmeras poças de sangue, que se encontrava por onde se passava”, narra em seu livro Una Vida de Politécnico.
Gilberto Guevara Niebla, também estudante, em suas memórias conta que não foi atingido pelas balas como muitos, mas foi espancado nos porões de um dos edifícios que rodeia a praça e em seguida colocado em caminhões, junto a outros presos, e levado ao Campo Militar. “A polícia procurava tirar informações sobre armas e munições, que o movimento supostamente escondia. Fui torturado, levei um coronhada no peito, que provocou uma fratura. Depois, passei por um fuzilamento simulado”, nos conta Niebla, que quando solto em 1974 fundou a Organização Revolucionaria Punto Crítico. No México, os primeiros números falavam em quatro mortos. O jornal inglês The Guardian apurou os fatos e denunciou: 325 mortos e milhares de feridos. Mas, na realidade, até hoje a quantidade de mortos e feridos é pouco confiável. A Comissão de Familiares atualmente sustenta que entre 300 e 500 pessoas morreram naquela tarde. Muitos procuram até hoje os corpos de seus familiares. Faltavam dez dias para o início das Olimpíadas e o batalhão especial, mobilizado para “dispersar” a manifestação era o temido Batalhão Olímpia (ver quadro). Investigações
Em 1969, o presidente Gustavo Díaz Ordaz Bolaños assumiu, perante o plenário do Congresso, a condição de único e total responsável pela medida drástica e extrema de reprimir a manifestação, fundamentalmente para “conter o avanço das hordas vermelhas”. Aplaudido, deu o tom do que ainda se mantém como versão oficial. “Os estudantes, que estavam armados iniciaram os tiroteios”. O então ministro do Interior no México, e depois presidente do país, Luis Echeverría, negou qualquer participação no ato. Em outubro de 1997 foi criada uma comissão especial para investigar o massacre.“Os que têm as mãos ensangüentadas podem ficar tranqüilos. Não estamos pedindo suas cabeças”, anunciava o deputado Pablo Gómez Alvarez , membro da comissão que investigava Tlatelolco e complementava. “Simplesmente o que pedimos é que não percamos a memória e que saibamos a verdade.” Alvarez estava presente no dia 2 de outubro no massacre de Tlatelolco. Na ocasião, foi preso e somente deixou o cárcere em 1971.
Com a criação da lei federal de Transparência, em outubro de 2003, o acesso aos documentos oficiais, guardados no Arquivo Geral da Nação, se tornou público, o que possibilitando, até certo ponto, reconstituir os fatos. Em dezembro de 2005, a comissão completou suas investigações entregando documentos que provavam torturas, seqüestros e assassinatos sob alegação de combater “atividades subversivas” entre os anos de 1962 e 1982. “A atitude autoritária que o Estado mexicano tomou para controlar a oposição criou uma espiral de violência que levou a se cometerem crimes contra a humanidade, incluindo o genocídio” informava o relatório da comissão. Porém, nenhuma das conclusões da comissão se reverteu em julgamentos ou prisões dos responsáveis pelo massacre de Tlalelolco ou de outras arbitrariedades do governo mexicano.
Em junho de 2006, Luís Echeverría foi condenado por genocídio. Devido à sua idade avançada – tinha 84 anos – cumpriu prisão domiciliar. Menos de um mês depois, seus delitos foram anulados, após sentença do juiz José Guadalupe Luna Altamirano, do Terceiro Tribunal Unitário Penal. O juiz afirmou que nenhuma das provas apresentadas mostra que Echeverría havia participado da “preparação, concepção e consecução de genocídio”. Em agosto de 2007, a promotoria mexicana entrou com um recurso de revisão contra a resolução do tribunal. O processo atualmente tramita sem alterações.
Em outubro de 2007, ao completar 39 anos do massacre, a frente de deputados e senadores ligados à esquerda mexicana lembrou o fato como um dos eventos mais dolorosos da história moderna do país. Javier González Garza, deputado pelo PAN, cobrou justiça e afirma estar envergonhado por todos os governos mexicanos desde então que apoiaram a impunidade. Na ocasião, os parlamentares ligados ao PRI e ao PVEM afirmaram serem contra o “linchamento histórico” e pediram para “superar a história”. Quem responde ao apelo é Carlos Monsiváis: “Não se preserva a ordem potenciando a impunidade, não se constrói uma sociedade mutilando a memória histórica, não se transcendem os crimes do passado remetendo ao esquecimento os nomes e as trajetórias dos criminosos, ainda à espera da sentença justa”, vaticina sobre Tlatelolco, que também poderia ser sobre qualquer outro fato histórico ao qual a América Latina sucumbiu por estes anos.

As sombras de Tlatelolco

Em 2005 , o jornal La Jornada e o canal Seis de Julio produziram o documentário Tlatelolco – Las claves de la massacre, onde reuniram todo o material cinematográfico sobre o 2 de outubro de 1968, depoimento de sobreviventes, investigações sobre as forças repressoras e o envolvimento da CIA (Agência Central de Inteligência) no massacre. O documentário também está disponível no site da Fórum (www.revistaforum.com.br/especial68). O documentário revela detalhes, como o sinal que identificava o batalhão “paramilitar” chamado de Olímpia, uma luva branca na mão esquerda. Olímpia abrigava cerca de 600 membros, formados nas escolas militares do México, que atuaram durante vários anos na repressão aos movimentos organizados no México, sob a égide do governo.

Brunna Rosa, Revista Fórum

dulce abismo


Amada,
supón que me voy lejos
tan lejos que olvidaré mi nombre.

Amada,
quizás soy otro hombre
más alto y menos viejo
que espera por si mismo
allá lejos, allá trepando el dulce abismo.

Amada,
supón que no hay remedio,
remedio es todo lo que intento.

Amada,
toma este pensamiento
colócalo en el centro de todo el egoísmo
y ve que no hay ausencia para el dulce abismo.

Amada,
supón que en el olvido
la noche me deja prisionero

Amada,
habrá un lucero nuevo
que no estará vencido
de luz y de optimismo
y habrá un sinfín
latente bajo el dulce abismo.

Amada,
la claridad me cerca.
Yo parto, tu guardarás el huerto.

Amada,
regresaré despierto
otra mañana terca de música y lirismo,
regresaré del sol que alumbra el dulce abismo.



(silvio Rodríguez – cuba)

confesión

Aunque no sé historia, o muy poca, yo soy el autor de esas páginas.

Todo me ha ocurrido a mí desde el principio.
Yo soy el protagonista,
la víctima, el culpable y el verdugo.

Soy el que mira y el que actúa.
Las edades en mí han descansado.
Los días han sido mi alimento.
Las ideas, mis alas,
mis puñales.

Por el hueco de mis manos ha pasado
el río de las armas.

Mis ojos son los hornos en que ha ardido
la creación entera.

Mi canto es el silencio.

Hombre, mujer, niño, anciano,
cada gesto mío tiembla en las estrellas
atravesando el tiempo irrepetible.

Yo soy. No busquen a otro,
no torturen a otro,
no amen a otro.

No tengo escapatoria.


Cintio Vitier, Cuba, 1921.

quiéreme

Me llamo Edgardo. Vivo en el piso 16 de un edificio de cuarenta años. Yo tengo cuarenta y cinco, es decir, tenía cinco años cuando construyeron estas paredes y el techo que hoy me abrigan. En el piso hay tres departamentos. El mío es el más pequeño. Vivo solo. No me he casado ni tengo hijos porque me aterran las ataduras. Trabajo en un centro nocturno al que acuden personas de clase media alta. Gerencio y sirvo los tragos cuando los mesoneros están muy cargados. Desde hace unos ocho años empezaron a venir mujeres solas. A tomarse un trago y a mirar. A veces alguna se liga con alguien. Otra vez alguno se desprende de alguien. Una noche una mujer me sedujo. Me dejé porque me gustan las mujeres y ésta había venido unas cuatro veces y solo se había dedicado a mirar y tomarse un vodkas sin intenciones extrañas. Se llama Soledad. Está casada. Tiene un buen auto, tres hijos pequeños y un marido solvente. Es arquitecta. Trabaja en un proyecto de rediseño de una empresa transnacional. Le pagan muy bien. Esa noche quiso beber vodka conmigo fuera del centro nocturno. Nos fuimos a mi departamento y ella me besó al entrar matando mi aliento. Me destrozó la camisa y tuvimos sexo para siempre. Se descubrió ella en un grito de paz. Le serví un vodka. Reclinada en un sofá me escrutaba hasta el cansancio que se veía en mis piernas desnudas. Me dijo de pronto: “lo haces muy bien”. Atolondrado, le pregunté: “¿Qué hago bien?”. El amor, me respondió. Hoy que ya sé todo de su vida y que soy su verdadero “marido” para los fines del sexo con amor y las charlas más hondas y bellas que me ha regalado sobre las cosas más nimias, comprendo que el amor está perdido en las manos. Soledad vive dos vidas –su esposo vive tres o cuatro- y sus hijos viven la sola vida de sus padres solos. Ella quiere vivir la vida con sus hijos pero la traición primera de su apellido “de” la devastó. La traición segunda, la anuló. La traición tercera, no le importó. No estaba viviendo y sus hijos comenzaron a vivir sin ella. Sin el alma de ella. “Edgardo, te quiero”. Dijo un día. No pude sostener un plato. Nunca me había dicho eso. No lo esperaba. Pero veo en sus ojos que me quiere. Han pasado por mi vida unas trece mujeres. Y siempre hubo una razón para olvidarlas. Soledad no vivía conmigo y estaba siempre. Llegaba cuando quería porque no impuse ninguna regla ni la ‘soportaba’ cuando caía a mi departamento 1603. Ella era un mural de tiempo que me enseñaba el amor desde su inmensidad de mujer y no de hembra. Un día la vi de lejos con su marido y sus hijos. Flotaban. Ella era la única que no flotaba. Caminaba firme. Confía que sus hijos sentirán su firmeza y será suficiente. Hoy, apenas se ha ido Soledad, el aire me confirma que no hay motivos para decirle adiós. Pero soy un hombre y quiero tener otra mujer. Así he vivido veinticinco años. No es cuestión de fidelidad o inestabilidad emocional. Es que me gustan las mujeres. Soledad sabe que durante estos dos años ella ha sido la única mujer que ha tocado mi cuerpo. Que ha sudado mi cuerpo. Que ha trajinado mi cuerpo. Y yo sé lo mismo. Soledad vuelve en la noche y me pide solo una cosa: quiéreme.


(carol murillo ruiz - ecuador)

mapa de carreteras


Si llegas desde el Norte, cercado de montañas,
encontrarás un bosque y un pueblo de cabañas,
al pie de una maraña de árboles ocres.


Si es desde el Sur que partes, verás un sol de arena
donde las dunas arden. De noche, las estrellas,
cual bóveda de huellas, podrán guiarte.



No hay temor de que te pierdas.
Estudiando bien los mapas,
sé que existen, por lo menos,
cuatro formas de que vuelvas.


Si llegas desde el Oeste,
un mar limpio y sereno se prestará a mecerte.
El ruido de los juegos del agua contra el suelo,
el rayo verde

Si desde el Este partes,
las alas y los vuelos querrán acariciarte.
Verás un riachuelo,
y en el temblor del suelo podrás mirarte.


No hay temor de que te pierdas.
Estudiando bien los mapas,
sé que existen, por lo menos,
cuatro formas de que vuelvas.


(pedro guerra - españa)

ausência



Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.





(carlos drummond de andrade - brasil)

o mito

Sequer conheço Fulana,
vejo Fulana tão curto,
Fulana jamais me vê,
mas como eu amo Fulana.

Amarei mesmo Fulana?
Ou é ilusão de sexo?
Talvez a linha do busto,
da perna, talvez o ombro.

Amo Fulana tão forte,
amo Fulana tão doce,
que todo me despedaço
e choro, menino, choro.

Mas Fulana vai se rindo...
Vejam Fulana dançando.
No esporte, ela está sozinha.
No bar, quão acompanhada.

E Fulana diz mistérios,
diz marxismo, rimmel, gás.
Fulana me bombardeia,
no entanto sequer me vê.

E sequer nos compreendemos.
É dama de alta fidúcia,
tem latifúndios, iates,
sustenta cinco mil pobres.

Menos eu... que de orgulhoso
me basto pensando nela.
Pensando com unha, plasma,
fúria, gilete, desânimo.

Amor tão disparatado,
Desbaratado é que é...
Nunca a sentei no meu colo
nem vi pela fechadura.

Mas eu sei quanto me custa
manter esse gelo digno,
essa indiferença gaia
e não gritar: Vem, Fulana!

Como deixar de invadir
sua casa de mil fechos
e sua veste arrancando
mostrá-la depois ao povo

tal como é ou deve ser:
branca, intacta, neutra, rara,
feita de pedra translúcida,
de ausência e ruivos ornatos.

Mas como será Fulana,
digamos, no seu banheiro?
Só de pensar em seu corpo
o meu se punge... Pois sim.

Porque preciso do corpo
para mendigar Fulana,
rogar-lhe que pise em mim.
Que me maltrate... Assim não.

Mas Fulana será gente?
Estará somente em ópera?
Será figura de livro?
Será bicho? Saberei?

Não saberei? Só pegando,
pedindo: Dona, desculpe...
o seu vestido esconde algo?
tem coxas reais? cintura?

Fulana às vezes existe
demais; até me apavora.
Vou sozinho pela rua,
eis que Fulana me roça.

Olho: não tem mais Fulana.
Povo se rindo de mim.
(Na curva do seu sapato
o calcanhar rosa e puro.)

E eu insonte, pervagando,
em ruas de peixe e lágrima.
Aos operários: A vistes?
Não, dizem os operários.

Aos boiadeiros: A vistes?
Dizem não os boiadeiros.
Acaso a vistes, doutores?
Mas eles respondem: Não.

Pois é possível? Pergunto
aos jornais: todos calados.
Não sabemos se Fulana
Passou. De nada sabemos.

E são onze horas da noite,
são onze rodas de chope,
onze vezes dei a volta
de minha sede: e Fulana

talvez dance no cassino
ou, e será mais provável,
talvez beije no Leblon,
talvez se banhe na Cólquida;

talvez se pinte no espelho
do táxi; talvez aplauda
certa peça miserável
num teatro barroco e louco;

talvez cruze a perna e beba,
talvez corte figurinhas,
talvez fume de piteira,
talvez ria, talvez minta.

Esse insuportável riso
de Fulana de mil dentes
(anúncio de dentrifrício)
é faca me escavacando.

Me ponho a correr na praia.
Venha o mar! Venham, cações!
Que o farol me denuncie!
Que a fortaleza me ataque!

Quero morrer sufocado,
quero das mortes a hedionda,
quero voltar repelido
pela salsugem do largo,

já sem cabeça e sem perna,
à porta do apartamento,
para feder: de propósito,
somente para Fulana.

E Fulana apelará
Para os frascos de perfume.
Abre-os todos: mas de todos
eu salto, e ofendo, e sujo.

E Fulana correrá
(nem se cobriu: vai chispando),
talvez se atire lá do alto.
Seu grito é: socorro! e deus.

Mas não quero nada disso.
Para que chatear Fulana?
Pancada na sua nuca
na minha é que vai doer.

E daí não sou criança.
Fulana estuda meu rosto.
Coitado: de raça branca.
Tadinho: tinha gravata.

Já morto, me quererá?
Esconjuro se é necrófila...
Fulana é vida, ama as flores,
as artérias e as debêntures.

Sei que jamais me perdoara
matar-me para servi-la.
Fulana quer homens fortes,
couraçados, invasores.

Fulana é toda dinâmica,
tem um motor na barriga.
Suas unhas são elétricas,
seus beijos refrigerados,

desinfetados, gravados
em máquina multilite.
Fulana, como é sadia!
Os enfermos somos nós.

Sou eu o poeta precário
que fez de Fulana um mito,
nutrindo-me de Petrarca,
Ronsard, Camões e Capim;

Que a sei embebida em leite,
carne, tomate, ginástica,
e lhe colo metafísicas,
enigmas, causas primeiras.

Mas, se tentasse construir
outra Fulana que não
essa de burguês sorriso
e de tão burro esplendor?

Mudo-lhe o nome: recorto-lhe
um traje de transparência;
já perde a carência humana;
e bato-a; de tirar sangue.

E lhe dou todas as faces
de meu sonho que especula;
e abolimos a cidade
já sem peso e nitidez.

E vadeamos a ciência,
mar de hipóteses. A lua
fica sendo nosso esquema
de um território mais justo.

E colocamos os dados
De um mundo sem classe e imposto;
e nesse mundo instalamos
os nossos irmãos vingados

E nessa fase gloriosa,
De contradições extintas,
Eu e Fulana, abrasados,
queremos... que mais queremos?

E digo a Fulana: Amiga,
afinal nos compreendemos.
Já não sofro, já não brilhas,
Mas somos a mesma coisa.

(Uma coisa tão diversa
da que pensava que fôssemos.)



(carlos drummond de andrade - brasil)

estados de ánimo



unas veces me siento
como pobre colina,
y otras como montaña
de cumbres repetidas,
unas veces me siento
como un acantilado,
y en otras como un cielo azul
pero lejano, a veces uno es
manantial entre rocas,
y otras veces un árbol
con las últimas hojas,

pero hoy me siento
apenas como laguna insomne,
con un embarcadero
ya sin embarcaciones,
una laguna verde
inmóvil y paciente
conforme con sus algas
sus musgos y sus peces,
sereno en mi confianza
confiando en que una tarde,
te acerques y te mires...

te mires al mirarme.

(mario benedetti - uruguay)

la palabra que sana

Esperando que un mundo sea desenterrado por el lenguaje, alguien canta el lugar en que se forma el silencio. Luego comprobará que no porque se muestre furioso existe el mar, ni tampoco el mundo. Por eso cada palabra dice lo que dice y además más y otra cosa.


(alejandra pizarnik - argentina)

fuga en lila






Habría que escribir sin para qué, sin para quién.
El cuerpo se acuerda de un amor

como encender la lámpara.
El silencio es tentación y promesa.





(alejandra pizarnik - argentina)

de volta pra casa



mudaram as estacoes
nada mudou
mas eu sei que alguma coisa aconteceu
tá tudo assim tao diferente...

se lembra quando a gente
chegou um dia a acreditar
que tudo era pra sempre
sem saber que pra sempre
sempre acaba...

mas nada vai conseguir mudar
o que ficou
quando penso em alguém só penso em você
e aí entao estamos bem

mesmo com tantos motivos
pra deixar tudo como está
nem desistir nem tentar
agora tanto faz

estamos indo de volta pra casa


(renato russo)

soledad




Soledad,
aquí están mis credenciales,
vengo llamando a tu puerta
desde hace un tiempo,
creo que pasaremos juntos temporales,
propongo que tú y yo nos vayamos conociendo.

Aquí estoy,
te traigo mis cicatrices,
palabras sobre papel pentagramado,
no te fijes mucho en lo que dicen,
me encontrarás en cada cosa que he callado.

Ya pasó
ya he dejado que se empañe
la ilusión de que vivir es indoloro.
Qué raro que seas tú
quien me acompañe, soledad,
a mí, que nunca supe bien
cómo estar solo.



(jorge drexler - uruguay)

no hay paz






No quiero paz, no hay paz,
quiero mi soledad.
Quiero mi corazón desnudo
para tirarlo a la calle,
quiero quedarme sordomudo.
Que nadie me visite,
que yo no mire a nadie,
que si hay alguien,
como yo, con asco,
que se lo trague.
Quiero mi soledad,
no quiero paz, no hay paz.




(jaime sabines - méxico)


A partir de este sábado, desde todos los rincones del mundo llegarán nuevamente poetas de todo el mundo a Medellín para clamar por la paz y la reconciliación. Y es que en su versión 18, el Festival Internacional de Poesía busca reiterar su terco, pero esperanzador clamor por la paz en Colombia.

Así lo afirma su creador, el también poeta y gestor cultural Fernando Rendón, quien destaca el reconocimiento internacional que ha alcanzado el certamen y confía en que eso le dé fortaleza para propiciar el diálogo entre los antagonistas del conflicto.

"La poesía nos da la fuerza para resistir las desgracias y nos la dará también para transformar esta historia de sufrimiento en una historia nueva", afirma Rendón, quien ha visto crecer por casi dos décadas la poesía en Medellín, a tal punto que hace dos años el Festival ganó el Premio Nobel Alternativo de la Paz.

por um lindésimo de segundo



tudo em mim anda a mil
tudo assim
tudo por um fio
tudo feito
tudo estivesse no cio
tudo pisando macio
tudo psiu


tudo em minha volta
anda às tontas
como se as coisas
fossem todas
afinal de contas




(paulo leminski - brasil)

espero curarme de ti




Espero curarme de ti en unos días. Debo dejar de fumarte, de beberte, de pensarte. Es posible. Siguiendo las prescripciones de la moral en turno. Me receto tiempo, abstinencia, soledad.
¿Te parece bien que te quiera nada más una semana? No es mucho, ni es poco, es bastante. En una semana se puede reunir todas las palabras de amor que se han pronunciado sobre la tierra y se les puede prender fuego. Te voy a calentar con esa hoguera del amor quemado. Y también el silencio. Porque las mejores palabras del amor están entre dos gentes que no se dicen nada.
(...)
Una semana más para reunir todo el amor del tiempo. Para dártelo. Para que hagas con él lo que quieras: guardarlo, acariciarlo, tirarlo a la basura. No sirve, es cierto. Sólo quiero una semana para entender las cosas. Porque esto es muy parecido a estar saliendo de un manicomio para entrar a un panteón.


(jaime sabines - méxico)

ya no

Ya no será
ya no
no viviremos juntos
no criaré a tu hijo
no coseré tu ropa
no te tendré de noche
no te besaré al irme.
Nunca sabrás quién fui
por qué me amaron otros.
No llegaré a saber por qué
ni cómo
nunca
ni si era verdad
lo que dijiste que era
ni quién fuiste
ni qué fui para ti
ni cómo hubiera sido
vivir juntos
querernos
esperarnos
estar.


Ya no soy más que yo
para siempre
y tú ya no serás para mí
más que tú.


Ya no estás
en un día futuro
no sabré dónde vives
con quién
ni si te acuerdas.

No me abrazarás nunca
como esa noche
nunca.

No volveré a tocarte.
No te veré morir.



(idea vilariño - uruguay)

se

se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver com garra


eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto



ia ser um riso
ia ser um gozo
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem meu melhor vestido
era remédio


daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse...



(alice ruiz - brasil)

...


tem palavra
que não é de dizer
nem por bem
nem por mal
tem palavra
que não é de comer
que não dá pra viver
com ela
tem palavra
que não se conta
nem prum animal
tem palavra
louca pra ser dita
feia bonita
e não se fala
tem palavra
pra quem não diz
pra quem não cala
pra quem tem palavra
tem palavra
que a gente tem
e na hora H
falta


(alice ruiz - brasil)

soy mi cuerpo

Soy mi cuerpo. Y mi cuerpo está triste y está cansado. Me dispongo a dormir una semana, un mes; no me hablen.Que cuando abra los ojos hayan crecido los niños y todas las cosas sonrían.Quiero dejar de pisar con los pies desnudos el frío. Échenme encima todo lo que tenga calor, las sábanas, las mantas, algunos papeles y recuerdos, y cierren todas las puertas para que no se vaya mi soledad.Quiero dormir un mes, un año, dormirme. Y si hablo dormido no me hagan caso, si digo algún nombre, si me quejo. Quiero que hagan de cuenta que estoy enterrado, y que ustedes no pueden hacer nada hasta el día de la resurrección.Ahora quiero dormir un año, nada más dormir.

(jaime sabines - méxico)
Llorar a lágrima viva. Llorar a chorros. Llorar la digestión. Llorar el sueño. Llorar ante las puertas y los puertos. Llorar de amabilidad y de amarillo.
Abrir las canillas, las compuertas del llanto. Empaparnos el alma, la camiseta. Inundar las veredas y los paseos, y salvarnos, a nado, de nuestro llanto.
Asistir a los cursos de antropología, llorando. Festejar los cumpleaños familiares, llorando. Atravesar el África, llorando.
Llorar como un cacuy, como un cocodrilo... si es verdad que los cacuyes y los cocodrilos no dejan nunca de llorar.
Llorarlo todo, pero llorarlo bien. Llorarlo con la nariz, con las rodillas. Llorarlo por el ombligo, por la boca.
Llorar de amor, de hastío, de alegría. Llorar de frac, de flato, de flacura. Llorar improvisando, de memoria. Llorar todo el insomnio y todo el día!


(oliverio girondo - argentina)

comunión plenaria

Los nervios se me adhieren al barro, a las paredes, abrazan los ramajes, penetran en la tierra, se esparcen por el aire, hasta alcanzar el cielo. El mármol, los caballos tienen mis propias venas. Cualquier dolor lastima mi carne, mi esqueleto. ¡Las veces que me he muerto al ver matar un toro!...
Si diviso una nube debo emprender el vuelo. Si una mujer se acuesta yo me acuesto con ella. Cuántas veces me he dicho: ¿Seré yo esa piedra?
Nunca sigo un cadáver sin quedarme a su lado. Cuando ponen un huevo, yo también cacareo. Basta que alguien me piense para ser un recuerdo.
(oliverio girondo - argentina)

aplastamiento de las gotas

Yo no sé, mira, es terrible cómo llueve. Llueve todo el tiempo, afuera tupido y gris, aquí contra el balcón con goterones cuajados y duros, que hacen plaf y se aplastan como bofetadas uno detrás de otro qué hastío. Ahora aparece una gotita en lo alto del marco de la ventana, se queda temblequeando contra el cielo que la triza en mil brillos apagados, va creciendo y se tambalea, ya va a caer y no se cae, todavía no se cae. Está prendida con todas las uñas, no quiere caerse y se la ve que se agarra con los dientes mientras le crece la barriga, ya es una gotaza que cuelga majestuosa y de pronto zup ahí va, plaf, deshecha, nada, una viscosidad en el mármol.
Pero las hay que se suicidan y se entregan en seguida, brotan en el marco y ahí mismo se tiran, me parece ver la vibración del salto, sus piernitas desprendiéndose y el grito que las emborracha en esa nada del caer y aniquilarse. Tristes gotas, redondas inocentes gotas. Adiós gotas. Adiós.

(julio cortázar – argentina)

las gentes que viajan

Las gentes que viajan adquieren
una forma fragilísima de belleza.
Por algunas horas se transforman en algo
Singular, y viven agudamente;
descubren extraños sentimientos
que no sospechaban que pudieran
tenerse, y caminan como dichosos

(…)

He visto partir a las gentes,
y no estaban solas: se sumergían
en su larga noche de viaje,
llevando en su sangre la pureza
que dan las distancias y los adioses;
pobladas de bocas y de miradas,
se purificaban como si fueran
a entrar en un templo o en un combate.

Y he visto los regresos y llegadas, abrazos
de amor entre gentes que no se amaban;
pero, sin embargo, el amor lucía
en ellos, brillaba evidente.

Y los que regresan sin que nadie
los espere viven también; trajeron
una soledad más limpia, un tesoro
de pueblos hallados, de noches decubiertas.

(…)

Y los que regresan y los que parten
se confunden: todo llevan en ellos
una sensación de heroísmo,
una lumbre tenue que se funda
en su corazón, y se derrama
y enciende sus rostros atónitos,
poblados de pérdidas y esperanzas.


(Rubén Bonifaz Nuño – Veracruz)

farewell


1


Desde el fondo de ti, y arrodillado,

un niño triste, como yo, nos mira.

Por esa vida que arderá en sus venas
tendrían que amarrarse nuestras vidas.

Por esas manos, hijas de tus manos,
tendrían que matar las manos mías.

Por sus ojos abiertos en la tierra
veré en los tuyos lágrimas un día.

2

Yo no lo quiero, Amada.

Para que nada nos amarre
que no nos una nada.

Ni la palabra que aromó tu boca,
ni lo que no dijeron las palabras.

Ni la fiesta de amor que no tuvimos,
ni tus sollozos junto a la ventana.

3

(Amo el amor de los marineros
que besan y se van.
Dejan una promesa.
No vuelven nunca más.

En cada puerto una mujer espera:
los marineros besan y se van.

Una noche se acuestan con la muerte
en el lecho del mar.

4

Amo el amor que se reparte
en besos, lecho y pan.

Amor que puede ser eterno
y puede ser fugaz.

Amor que quiere libertarse
para volver a amar.

Amor divinizado que se acerca
Amor divinizado que se va.)

5

Ya no se encantarán mis ojos en tus ojos,
ya no se endulzará junto a ti mi dolor.

Pero hacia donde vaya llevaré tu mirada
y hacia donde camines llevarás mi dolor.

Fui tuyo, fuiste mía. Qué más?
Juntos hicimos un recodo en la ruta donde el amor pasó.

Fui tuyo, fuiste mía. Tu serás del que te ame,
del que corte en tu huerto lo que he sembrado yo.

Yo me voy. Estoy triste: pero siempre estoy triste.
Vengo desde tus brazos. No sé hacia dónde voy...

Desde tu corazón me dice adiós un niño.
Y yo le digo adiós.


(pablo neruda - chile)

el burro y la flauta


tirada en el campo estaba desde hacía tiempo una flauta que ya nadie tocaba, hasta que un día un burro que pasaba por ahí resopló fuerte sobre ella haciéndola producir el sonido más dulce de su vida, es decir, de la vida del burro y de la flauta.
incapaces de comprender lo que había pasado, pues la racionalidad no era su fuerte - y ambos creían en la racionalidad - se separaron presurosos, avergonzados de lo mejor que el uno y el otro habían hecho durante su triste existencia.
(augusto monterroso - guatemala)

isla

aunque estoy a punto de renacer,
no lo proclamaré a los cuatro vientos
ni me sentiré un elegido:
sólo me tocó en suerte,
y lo acepto porque no está en mi mano
negarme, y sería por otra parte una descortesía
que un hombre distinguido jamás haría.
Se me ha anunciado que mañana,
a las siete y seis minutos de la tarde,
me convertiré en una isla,
isla como suelen ser las islas.
Mis piernas se irán haciendo tierra y mar,
y poco a poco, igual que un andante chopiniano,
empezarán a salirme árboles en los brazos,
rosas en los ojos y arena en el pecho.
En la boca las palabras morirán
para que el viento a su deseo pueda ulular.
Después, tendido como suelen hacer las islas,
miraré fijamente al horizonte,
veré salir el sol, la luna,
y lejos ya de la inquietud,
diré muy bajito:
¿así que era verdad?



(virgilio piñera – cuba)

te quiero a las diez de la mañana

Te quiero a las diez de la mañana, y a las once, y a las doce del día. Te quiero con toda mi alma y con todo mi cuerpo, a veces, en las tardes de lluvia. Pero a las dos de la tarde, o a las tres, cuando me pongo a pensar en nosotros dos, y tú piensas en la comida o en el trabajo diario, o en las diversiones que no tienes, me pongo a odiarte sordamente, con la mitad del odio que guardo para mí.
Luego vuelvo a quererte, cuando nos acostamos y siento que estás hecha para mí, que de algún modo me lo dicen tu rodilla y tu vientre, que mis manos me convencen de ello, y que no hay otro lugar en donde yo me venga, a donde yo vaya, mejor que tu cuerpo. Tú vienes toda entera a mi encuentro, y los dos desaparecemos un instante, nos metemos en la boca de Dios, hasta que yo te digo que tengo hambre o sueño.
Todos los días te quiero y te odio irremediablemente. Y hay días también, hay horas, en que no te conozco, en que me eres ajena como la mujer de otro. Me preocupan los hombres, me preocupo yo, me distraen mis penas. Es probable que no piense en ti durante mucho tiempo. Ya ves. ¿Quién podría quererte menos que yo, amor mío?

(jaime sabines - méxico)

buscar


No es un verbo sino un vértigo. No indica acción. No quiere decir ir al encuentro de alguien sino yacer porque alguien no viene.





(alejandra pizarnik - argentina)

golosinas





Un día estas cosas son cosas pasadas
Llenando la memoria como cajas

Tu risa que brinca, febrero y tus cartas
Y Silvio y Ojalá como coartada

Todos tenemos algo escondido
Y yo como todos tengo lo mío

Un día estas cosas son polvo de estrellas
Momento como curva en la vereda

Un día miramos y acaso reímos
Pensando en lo que ha sido y lo que fuimos

Todos tenemos algo escondido
Y yo como todos tengo lo mío

Amor y golosinas, sueños perversos
Y Gerard Depardieu diciendo versos

Un día volvemos aquí donde estamos
Y todo lo importante lo encontramos

El agua más fresca, la flor de las flores
Aroma que resuelve los olores

Todos tenemos algo escondido

Y yo como todos tengo lo mío


(pedro guerra - islas canarias)

mucho más allá





Quisiera hablar de la vida
Pues esto es la vida
este aullido, este clavarse las uñas
en el pecho, este arrancarse
la cabellera a puñados, este escupirse
a los propios ojos, sólo por decir,
sólo por ver si se puede decir:
es que soy yo?
verdad que sí?


(alejandra pizarnik - argentina)

enigma de la deseosa




Muchacha imperfecta busca hombre imperfecto de 32,
exige lectura de Ovidio, ofrece:
a) dos pechos de paloma,
b) toda su piel liviana
para los besos,
c) mirada verde para desafiar el infortunio
de las tormentas;

no va a las casas
ni tiene teléfono, acepta
imantación por pensamiento.
No es Venus;
tiene la voracidad de Venus.



(gonzalo rojas - chile)

ojalá nos invadan

Y ahora qué más da;
si nos hemos quedado solos,
que nos invadan sería lo mejor.
Sería una bendición para nuestra tierra
que rodeen nuestras fronteras
y que nos invadan nuestros
hermanos latinoamericanos.
Que nos invadan los ecuatorianos,
tal vez así volvamos a tener
de tierno maíz el corazón que perdimos.
¡Que nos invadan los cubanos!
Para que nuestros niños
se eduquen gratuitamente
y no mueran en las puertas
de los hospitales privados.
Que venga lo mejor de nuestra América.
Que venga un contingente
de garotas brasileras
que nos hagan el amor hasta
perder la leve fuerza que se necesita
para apretar un gatillo.
Sería lo mejor para Colombia
una invasión brasilera a gran escala;
De pronto así, algún día,
ganemos un mundial de fútbol.

Necesitamos urgentemente
una invasión venezolana,
para volver a decir
las cosas con claridad,
con franqueza, sin santaderismos,
con elocuencia bolivariana.
Se requiere con urgencia
una invasión boliviana,
que nos quite esa vergüenza
de ser indios; esa vergüenza,
que nos condena eternamente
al peor de los subdesarrollos.
Reclamo con ansias la invasión
de tropas de piqueteros argentinos,
de madres y abuelas de plaza,
que nos cuenten historias
en donde podamos reconocer
en nuestras propias historias.
Que vengan tropas españolas y chilenas,
a contarnos como se pudre el corazón
de una patria fascista.

Vengan los uruguayos con sus mates amargos
a contarnos la milonga dulzona y triste
de sus desaparecidos.
Que vengan todos los hermanos
del mundo a esta tierra olvidada
a hacernos entender que nuestro
país no es el mejor país del mundo,
porque es una patria injusta.
Que Colombia es pasión...
y muerte.
Ojala nos invadan la batucada festiva
que acabe con nuestro luto,
que acabe con este silencio que aturde.
Estamos solos, a la derecha del mapa.
Sólo nos acompaña nuestro buen amigo
el que invadió el país de las mil y una noches.



(lizardo carvajal - colombia)

un día






andas por esos mundos como yo; no me digas
que no existes; existes, nos hemos de encontrar;
no nos conoceremos, disfrazados y torpes,
por los anchos caminos echaremos a andar.


no nos conoceremos, distantes uno de otro
sentirás mis suspiros y te oiré suspirar.
dónde está la boca, la boca que suspira?
diremos, el camino volviendo a desandar.

quizás nos encontremos frente a frente algún día,
quizás nuestros disfraces nos logremos quitar.
y ahora me pregunto... cuando ocurra, si ocurre,
sabré yo de suspiros, sabrás tú suspirar?



(alfonsina storni - suiza/argentina)

fábula de un animal invisible






el hecho – particular y sin importancia – de que no lo veas, no significa que no exista, o que no esté aquí, acechándote desde algún lugar de la página en blanco, preparado y ansioso de saltar sobre tu ceguera.





(wilfredo machado – venezuela)

cambios




cambio lola de 30
x dos viejas de 15

cambio torta de novia
x un par de muletas eléctricas

cambio gato enfermo de meningitis
x aguafuerte del siglo XVIII

cambio volcán en erupción permanente
x helicóptero poco uso

cambio gato x liebre

cambio zapato izquierdo  x  derecho


(nicanor parra - chile)